Primeiras impressões sobre a mostra Espantomania
17/01/2011 13:12
Primeiramente gostaria de ressaltar o fato de que administrar uma mostra de cinema de gênero na periferia foi uma experiência inesquecível e que me preencheu (além de cabelos brancos) com uma satisfação imensa. Não vou dizer que foi fácil e divertido e em certos momentos cheguei a pensar que tudo iria por água abaixo, mas graças a minha parceira R. Raven (que agüentou meu péssimo humor no decorrer da organização da mostra) e a presença de valorosos amigos no circuito alternativo posso dizer que o projeto foi um total sucesso tanto para a região quanto para o próprio gênero Horror, marginalizado e jogado às bordas como subcultura por pseudo intelectuais e críticos frustrados.
Mesmo com uma saraivada de eventos que ocorriam na Casa de Cultura Palhaço Carequinha (ensaio de escola de samba, formatura de criança, encontro de violeiros e show de forró universitário) a meta da Mostra Espantomania foi alcançada: assombrar o bairro do Grajaú (SP).
Foram quase 20 horas de exibição de curtas de diversos países, mostras competitivas, sorteios, atividades culturais e sociais, bate papo e curiosidades sobre o gênero horror/fantástico em dois dias que “tocaram o terror” na periferia da zona sul de São Paulo. O evento contou com a participação de feras no assunto como Adriano Siqueira (escritor e colecionador de artefatos sobre vampiros), Alfer Medeiros (escritor, Fúria Lupina Brasil), Lord A (DJ e promoter), Soira Celestino (escritora, Antologia UFO: Contos Não Identificados), e Renato Rosatti (colunista e editor do fanzine Juvenatrix) e a presença de alguns diretores como Marcos T. R. Almeida (Devaneios do Conde Lopo), Marcio Desideri (Torre Sangrenta) e Renato Santos (Cativeiro). A primeira edição da mostra começou um tanto tímida (quase 50 pessoas juntando os dois dias), mas interagiu bem com os convidados e filmes exibidos no local participando de quase todas as atividades. O projeto “Monstros que Salvam” conseguiu angariar 10 quilos de alimento com a estréia de seu Quiz do Horror e deixando aqui registrado que o “Monstros que Salvam” não ficará ligado somente ao Espantomania e sim a quaisquer evento que quiser levantar esta bandeira em prol da luta contra a fome.
Infelizmente a minha palestra sobre “Maquiagem de Horror” teve de ser cancelada, pois a sala que havíamos reservado teve de ser tomada novamente para um ensaio de violeiros que aconteceria no local, mas de resto todo o dia foi repleto de novidades e convidados. Após a apresentação do documentário “Sangue Marginal” e uma sessão de fotos no saguão do CineGrajaú apresentamos ao público a sessão Panoramacabro que exibiu curtas dos mais diversos cantos do mundo como “See the Dead” (Robert W. Filion, USA), “Naturaleza Muerta” (Rafa Dengrá, Espanha), “Zero Day” (Javier Gomez, Espanha), o curta nacional “Coagula” (Carlos G. Gananian, Brasil), e os magníficos “Rare Exports Inc.” (Jalmari Helander, Finlândia, e que acabou com o Natal de algumas crianças presentes... hehehehe) e “Mamá” (Andres Muschietti, Espanha ).
Mas além de momentos gloriosos e de realização pessoal a mostra Espantomania foi assombrada pelo espírito maligno de uma perigosa entidade chamada “Zica”. As manifestações ocorreram no ar condicionado da sala de cinema que insistia em “batizar” os espectadores desavisados com uma chuva de gotas geladas. O problema só foi resolvido ocupando as cadeiras afetadas pelas goteiras do aparelho de ar condicionado com baldes de plástico. Os baldes chamaram tanta atenção que os batizamos como Boris, Bela e Chaney (sic.).
Outro “caroço” que tivemos foi com a aparelhagem da sala de exibição. Como, por motivos que desconheço, o CineGrajaú não tem acesso direto ao projetor e como substituto utilizamos um amplificador e um datashow alguns trabalhos ficaram com sua qualidade real danificada, como foi o caso do curta metragem “Torre Sangrenta”, de Marcio Desideri, que teve seu som alterado por não ser compatível com o aparelho de DVD utilizado na exibição, mas mesmo assim teve uma votação fechada e recebeu o prêmio “Revelação 2010”. E para finalizar, a votação para a mostra competitiva de longas e média-metragens teve um final inusitado: a exibição foi alterada devido à falta de público no local. Para não perdermos o horário e os participantes não perderem sua chance a equipe do Espantomania se reuniu com alguns dos diretores que ficaram até o final da mostra (que terminou as 21:00 horas) e resolvemos fazer uma sessão fechada somente para votação.
No domingo o sol já estava castigando e chegamos com certo atraso (tá bom... foi com uma hora de atraso!) e os valorosos guerreiros do underground Renato Rosatti, Alfer Medeiros e Adriano Siqueira já estavam no local se refrescando na sorveteria que fica em frente ao CineGrajaú. Algumas mudanças de horário foram feitas e o Bate Papo com o Horror teve seu início sem problemas. A mesa-redonda contou com a presença de Alfer Medeiros, Renato Rosatti, Adriano Siqueira e Lord A e a mediação ficou por conta do abominável Iam (Gore) Godoy que mesmo com ocasionais “brancos” no meio da conversa conseguiu, junto com os convidados, divertir e apresentar ao público curiosidades da mitologia do gênero Horror como cemitérios por debaixo de bairros nobres do centro de São Paulo, parentescos macabros de alguns diretores de cinema com assassinos seriais, filmes trash, mãos humanas (?), revistas e quadrinhos antigos sobre o gênero, alienígena Bilú, melancias e flores-vampiro entre outras “esquisitices” que só uma mesa-redonda com grandes nomes do horror alternativo poderia proporcionar.
A segunda sessão do Panoramacabro contou com a exibição dos curtas Delenda Est Genesis (Rafa Dengrá, Espanha), Hostel (Anish John, India), o magnífico Ataque de Pânico (Fede Alvarez, Uruguai), Coleção de Humanos Mortos (Fernando Rick, Brasil, e que causou certo “desconforto” na platéia... heheheheh) e 06 Tiros; 60 ml (Kapel Furman, Brasil). Na hora do “Quiz Especial: Filmes de Horror”, os participantes concorreram a livros de horror e ficção científica doados pelos escritores e parceiros da mostra como a antologia Metamorfose: A Fúria dos Lobisomens (antologia da Ed. All Print), UFO: Contos Não Identificados (antologia da Ed. Literata), Na Última Lua Cheia (André Bozzetto Jr.), Abençoado (Juliano Sasseron), Aos Olhos das Morte (Marcelo Amado), Sementes no Gelo (André Vianco) e Fúria Lupina (Alfer Medeiros) além de exemplares das revistas Boca do Inferno.Com, Geração X e Fangoria (importada) respondendo a perguntas e pegadinhas sobre filmes de terror em geral.
No final da mostra mais uma surpresa. O documentário “Maldito!”, que conta a trajetória do diretor e cineasta José Mojica Marins (mundialmente conhecido como Zé do Caixão) acabou por não ser exibido por um triste motivo: falta de interesse do público que não compareceu à sessão e só restou a equipe da produção desmontar o material de exibição e seguir o caminho de casa, orgulhosos por mais esta realização que mesmo repleta de obstáculos fechou com chave de ouro o ano de 2010.